CONVERSA FILOSÓFICA 5: UMA PIADA DE MAL GOSTO.




Estas conversas filosóficas estão se tornando monólogos, oriundos de devaneios, perdido num mundo perigoso que não se deve entrar. Nossa mente pode ser um labirinto, tal como o de Creta, habitado por bestas feras, oriundos de nós mesmos, frutos de introspecção, intolerância, tendências psicodepressivas e ou sociopatas.
Muitas vezes tais sintomas ou comportamentos são camuflados por um fenômeno inerente a realidade humana, ignorado, ou não nominado, porem decisivo para a realidade tal como conhecemos existir: HIPOCRISIA OPERACIONAL. Vamos chamá-la de operacional, porem se trata de todo o tipo de hipocrisia existente em todas as nossas atividades. Podemos correlacionar ainda este fenômeno a um comportamento bastante importante para a existência humana e a forma social que nos regozijamos em viver, este comportamento em situações históricas foi marginalizado, quando não escrachado por lideres revolucionários, chama-se: TOLERÂNCIA.
A tolerância, é também por se dizer um desses fenômenos que estão intrinsicamente ligamos ao correto funcionamento do sistema tal qual conhecemos, porem muitas vezes passam despercebidos, ou as vezes não nominados, assim como a hipocrisia operacional, bem como o que difere o ser humano de qualquer outro animal: a fé. Estes fenômenos sustentam de forma controversa a abóboda de nossa realidade, porem com tal sutileza, que as torna quase imperceptível.
O sistema para existir, precisa de uma dose diária e cavalar de hipocrisia operacional, é quase um elixir, sem hipocrisia, sem realidade imperfeita que adoramos. A hipocrisia operacional é quase um regulador social, e é quase palpável principalmente nas instituições jurídicas empresariais. É aquela coisa, se cria regras administrativas, todos sabem que elas são excenciais, porem muitos não a seguem, as empresas sabem disso, porem deixa tudo como está, pois ela está fazendo sua parte, cumprindo seus deveres de regulamentar procedimentos, cabendo a cada um fazer ou não. É claro que se teriam formas de fazer regras, sistemas, orientações, procedimentos e processos mais eloquentes, mais praticáveis, mais assertivos e lógicos, porem tudo isso demanda boa vontade, adjetivo raro e inimigo de muitos. Pois boa vontade remete muitas vezes a coletividade, bem como a necessidade de colocarmos os interesses coletivos, acima de nossos interesses individuais, algo quase impraticável. O ser humano é egoísta por natureza, associado à burrice coletiva, a vida no mundo beira o impraticável. Para ficar mais claro: as empresas determinam regras, porem certas vezes não oferece condições para seu cumprimento, e sabe disso, porem não as altera, os funcionários fingem que cumprem as regras, os empregadores fingem que não sabem que seus funcionários não cumprem a regra, e todos ficam felizes e satisfeitos. Esse fenômeno complexo não está presente somente no âmbito empresarial, está escarnecido nas nossas leis. O sistema jurídico brasileiro é considerado um dos melhores do mundo, pois elenca um alto número de previsões legais e quais tratativas a serem adotadas. Positiva vários assuntos e ramos do direito, no âmbito cível, penal, administrativo, tributário, eleitoral entre vários outros, sem falar nos vários desmembramentos dentro de suas próprias esferas como no direito civil: discorre sobre direito de sucessão, contratos, bens materiais, e muitos outros temas. Está tudo na lei, porem sua aplicação é lastimável, se o sistema legal do Brasil é um dos melhores do mundo, arrisco a dizer, que seu sistema de execução, dentro da normalidade, deve ser um dos piores. E nossa política então? Quase imensurável pontuar toda a hipocrisia existente em nosso atual sistema político, mas a política por si só já é tendenciosa a este comportamento.
O fato é que a hipocrisia existe, está ai a todo o momento, as pessoas fingem, e as outras pessoas fingem que acreditam. Fingimos que respeitamos as pessoas diferentes, e as pessoas diferentes fingem que acreditam que são respeitadas. Fingimos que nos importamos com os famintos da África Negra, e eles...lá num tem fingimento não, a fome é brava mesmo. Mas ai quem finge são os outros, que também fingem se preocupar, ai todos esses que fingem se preocupar, fazem reuniões, e fingem ações de ajuda, que pouco se vê efetivamente acontecer. As pessoas, as empresas, as cidades e nações fingem que se preocupam com o meio ambiente, fazem ações, campanhas, porem continuam com atitudes ecologicamente incorretas: seja jogando um papel no chão, ou comprando tudo que nos oferecem sem sabermos sua cadeia produtiva, seja poluindo rios e mares, ou na pesca predatória, entre muitas outras atitudes questionáveis.
Fato porem, que a hipocrisia anda de mãos dadas com a tolerância, pois muitas vezes além de exercitarmos a hipocrisia, toleramos a mesma e seus resultados. Vamos dizer que a tolerância é o resultado ou comportamento passivo da hipocrisia. Quando exercitamos nossas hipocrisias, estamos fingindo, agindo ativamente, e quando aceitamos a hipocrisia alheia, somos passivos a hipocrisia de terceiros, ou seja, tolerantes.
Toleramos a falta de cultura, toleramos a burrice alheia, toleramos o fato do funk ser patrimônio cultural brasileiro, toleramos os imbecis que o ouvem.
Por fim o que nos resta? Já que não fazemos parte do 1% que detem toda a riqueza igual dos outros 99%, é viver essa vidinha de merda medíocre que nos empurraram goela-abaixo? É ter que engolir o ar fétido que emana das cidades e sua população cheia me maus elementos, pessoas chatas, feias, bobas e burras?[1] Temos mesmo que ficar aqui nessa novela de vidas alheias, enquanto o Senhor dos Tempos vê tudo de camarote? Tendo que toda a manhã, voltar do mundo dos sonhos, mesmo sem querer, todos os filhos desta mesma agonia[2]. Até quando? Até quando? ATÉ QUANDO!?!? Não sei nada, não sou nada, mas se pudesse, pedia pra ir embora antes do final[3], e teria a resposta para a pergunta elementar: O que é a vida? Uma piada de mau gosto.[4]


[1] Rádio Blá, Lobão.
[2] Alagados, Paralamas do Sucesso.
[3] Surfando Karmas e DNA, Hengenheiros do Hawaii.
[4] Lourenço Mutarelli respondendo essa pergunta para Antônio Abujamra no Programa “Provocações”, transmitido pela TV Cultura em 03.04.2012.

REDAÇÃO
AFM

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