ABORTO DE ANENCÉFALOS - PARTE 2: Aspecto social, moral e religioso do aborto.


Hoje o aborto e seu debate soam como condenados ao emocionalismo, a hipocrisia e a falta de respeito ao direito do outro, a igreja e os moralistas agarram-se em argumentos a favor da vida do feto independente da vida e saúde da mulher que o está gestando. Os defensores do aborto, seja ele limitado ou ilimitado, defendem que o nascituro não pode ter mais direito que a própria gestante e o direito ao próprio corpo são retomados contundentemente. A esta polêmica se junta à medicina, a bioética, a filosofia, embaraçados pela dificuldade de definir preciso instante em que ocorre o nascimento de um novo individuo, assim como se realmente esta é a discussão mais importante acerca do assunto.
Nesse liame ocorre a fragmentação do corpo feminino, onde o útero tem sido objeto de fala de instituições religiosas e legislativas, é tratado como parte autônoma e não integrante de um todo chamado de corpo feminino. Sobre o útero e a fecundação as religiões aplicam seus conceitos, o Estado legisla, e disso tudo os homens se apoderam.
Essa visão fragmentada não é exclusiva do tema aborto, é pratica comum em nossa linguagem cotidiana, onde ouvimos sobre a “mão-de-obra industrial”, os “braços da lavoura” ou os “cérebros deste país”. Toma-se uma parte do corpo como sendo um todo, perde-se a imagem da totalidade ordenada e organizada. A fragmentação ocorre até no plano espiritual, onde o espírito descola-se do corpo, e este é visto como um empecilho para o desenvolvimento do primeiro, embora um precise do outro, a carne, é um invólucro problemático, de onde se origina os pecados.[1]
A publicidade e a mídia têm grande responsabilidade por esta fragmentação das pessoas, transformando-as somente em corpos, principalmente as mulheres que se iguala a produtos de exportação. A estética torna-se essencial para a sobrevivência, à perseguição para se igualar aos rigorosos e voláteis padrões de beleza mundial torna-se um terrível fardo, acarretando em doenças como bulimia, anorexia e outros do gênero.
Grande problema também é a realidade cultural ocidental, que incutem na mulher como símbolo de fragilidade e sedução, contudo esse último ela deve negá-lo para ser considerada “mulher direita”. A mulher pode ser desejada, mas não deve desejar, deve dar prazer, mas não o pode ter, o livre exercício da sexualidade é algo permissivo para homens, mas renegado a mulher, contudo este exercício é permitido para os fins maternos e parte do papel de esposa, assim a mulher perde o estatuto de mulher para adquirir o de mãe, qual é assexuada. Contudo quando a mulher se passa para mãe, conquista também uma função social e seu corpo passa a se um patrimônio social, que lhe implica na perda de sua individualidade, podendo ser legislado. Criam-se normas que determinam se o fruto daquele ventre pode ser útil à sociedade ou mais importante que a própria mãe, a mulher passa a ser administrada pelo Estado, pela Igreja, contudo a ela nada é perguntado.[2]
A fragmentação ocorre também com o homem, qual deve passar uma imagem de viril, forte, conquistadores, desbravadores do sexo oposto, uma vida sexual intensa e se possível com variadas mulheres. Seus sentimentos devem ser limitados e ainda hoje a fragilidade é vista com maus olhos.
Tudo isso ocorre desde a infância, imposta pela educação nos lares e na escola, os meninos aprendem lentamente a dominar o mundo: domina a bola, brinca de carrinhos e os jogos preparam-no para a competição inevitável da vida adulta. A menina é educada para ser doce, feminina, contudo com muito cuidado, para que não se exponha, lhe é incentivado a viver intensamente seus sentimentos e emoções, o choro é amigo constante quando não lhe é permitido ousar. Na escola a educação, por mais modernos que sejam os tempos, a educação sexual é um tabu, a sexualidade é estudada principalmente do ponto de vista biológico, os órgãos genitais recebem em geral o nome de “aparelho reprodutor”, se deixando de lado a discussão do prazer, elemento principal da curiosidade de adolescentes, que tem seus hormônios em ebulição.
Quando o sexo entra em discurso, é falado do aspecto religioso, quando quase sempre é visto como sujo, pecado, e adjetivos do gênero. Durante séculos, a igreja era a única entidade a poder falar de sexo, e sempre para reprimi-lo, contudo com a evolução dos tempos a medicina também adquiriu esta permissão, contudo para tratar-lhe do aspecto clinico e as doenças que lhe podem envolver. A ciência com o decorrer das décadas também teve a permissão para falar sobre o assunto, para lhe estudar e depois explicar. Contudo, somente nos tempos contemporâneos é que a sexualidade realmente entrou na ciranda dos temas em discurso, e adquiriu o status de ramo especifico de estudo.
CONTINUA...

REDAÇÃO
AFM


[1] VERARDO, , Maria Tereza. Op. Cit. , p. 5.
[2] VERARDO, , Maria Tereza. Op. Cit. , p. 11.

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