CONVERSA FILOSÓFICA 6: TEORIA DAS PESSOAS ESQUECÍVEIS.
No
mundo, entre as bilhares de pessoas que se amontoam nos centros urbanos, os
caminhos dos indivíduos se cruzam a todo o momento, e às vezes se colidem,
assim como qualquer outro corpo mergulhado nesta sopa cósmica, qual o caos
caminha calmamente, que abriga desde estrelas de décima grandeza, a reles sacos
de carne como nós, ou ainda seres infimamente menores, como vírus e bactérias.
Fato
é que os caminhos das pessoas se cruzam a todo o momento, se cruzam, e por
frações de segundo, poderiam ter enes desdobramentos, mas tudo continua sem
alterações, cruzamos com pessoas que continuarão ignorados por nós, que serão
esquecidas, e se não fosse por aquela fração de tempo em que percorreram nossas
vistas, jamais imaginaríamos a sua existência. Mas diferentemente destes
ignorados desimportantes, no imbróglio de nossa existência, conhecemos muita
gente, cada qual com sua importância, e cada qual com sua participação na nossa
história, alguns são simples conhecidos, outros colegas, outros amigos, outros
quase irmãos. Essas pessoas conhecem pessoas, que conhecem pessoas e assim se
forma uma rede de contatos que chamamos de “net work”, usamos nosso net work
para fins pessoais e profissionais, e sempre que precisamos de algo, ou temos
algo a oferecer acessamos o nossos net work, e selecionamos alguém ou um número
de pessoas para este determinado fim. O ser humano se utiliza muito de estereótipos,
ou seja, uma concepção prévia de como é, e quais características tem determinada
coisa ou pessoa. Por exemplo: se eu lhe falar “Luciano Hulk”, você logo vai
pensar no “cara boa praça”, simpatia, pessoa “humana” e todos esses adjetivos
fofinhos. Ou seja, o estereótipo é aquela serie de adjetivos que imputamos a
algo ou a alguém, podendo estes adjetivos serem bons ou ruins.
Entendido
o que é “net work” e o que é estereótipo, vamos entender sua aplicabilidade:
fazemos inúmeras atividades socialmente, muitas dessas atividades fazemos com
pessoas que conhecemos, ou seja, com os componentes da nossa cadeia de
relacionamentos, podem ser atividades chatas, podem ser atividades legais,
podem ser apenas uma dúvida que surgiu, bem como pode ser a oportunidade de uma
vida, e em todas estas situações vamos recorrer ao nosso net work, e com base
no estereótipo de cada pessoa que conhecemos, bem como grau de afinidade e
intimidade, vamos selecionar alguém para participar desta atividade. Por
exemplo, todo mundo tem aquele colega inteligente no trabalho, que quando surgem
dúvidas é pra ele que todo mundo pergunta, bem como todo mundo tem aquele
amigo, que não pode jamais faltar no happy hour, pois ele é o “cara” mais
engraçado da turma.
Tem
pessoas que às vezes são próximas, tem um bom grau de afinidade, ambos conhecem
suas características e potenciais, porem quando surge uma oportunidade essas
pessoas são simplesmente esquecidas.
Não
é imputar um desejo ou demasiada responsabilidade de nosso destino na mão de
terceiros, e ou querer que estes sejam responsáveis pelo nosso sucesso, é
apenas entender porque que simplesmente as pessoas lembram-se do “fulano” mas
não se lembram de mim.
Sou
uma pessoa que conhece todo o tipo de gente, de todas as classes sociais, bem
como de diversos níveis culturais. Conheço trabalhadores, vagabundos, bandidos,
empresários, playboys, homossexuais, caipiras, intelectuais, executivos,
esquisitos, marginais, homens, mulheres, velhos, sábios, trogloditas, enfim,
todo o tipo de gente.
Sou
uma pessoa minimamente honesta, entrego um bom trabalho, me comunico bem, assim
como detenho pelo menos a inteligência do homem médio, porem quando no meu
circulo de relacionamento algum dos meus conhecidos e afins sabem de uma
oportunidade, não se lembram de mim, pois sou uma pessoa esquecível. Podem se lembrar de mim para talvez tirar uma
dúvida sobre algo, para pedir um favor, para acompanha-lo a algum lugar, porem
raramente para boas oportunidades. Isso ocorre por que a imagem que essas
pessoas tem da minha pessoa é que: ou eu esteja muito bem, e não precise desta
oportunidade; ou que não sou qualificado, ou não me encaixe para esta
oportunidade; ou simplesmente me torne invisível, não tendo motivo prévio.
No
mundo existem dois tipos de pessoas: as pessoas que são lembradas e as pessoas
esquecíveis. A maioria das pessoas são pessoas esquecíveis, e não somos
esquecíveis porque somos inferiores, menos inteligentes, menos bonitos, menos
legais ou qualquer outra coisa, simplesmente somos esquecíveis. As pessoas que
são lembradas são aquelas que mesmo não sendo as mais bonitas, as mais inteligentes,
as mais legais, ou qualquer outro adjetivo, são lembradas, como se tivesse uma
luz própria, um clarão que faz com que ela se destaque na multidão.
O
que me torna uma pessoa esquecível é o fato de não conseguir fixar a minha
imagem na mente das pessoas no momento decisivo, que é a seleção para boas
oportunidades, minha imagem só está presente na mente dessas pessoas para
eventos menores, como tirar uma dúvida, pedir um favor ou qualquer coisa do
gênero que não ver grande impacto na vida de nenhuma das partes.
Quantas
pessoas, caríssimo e raro leitor, que você conhece, e que tem... sorte. Que
sempre está no lugar e na hora certa, em que até mesmo quando as coisas estão
dando erradas, por fim, magicamente, dá certo? Quantas pessoas que você
conhece, qual as oportunidades sempre surgem, e cada vez melhores? De forma
nenhuma quero tirar os méritos dessas pessoas, que muitas vezes também
associadas a sua sorte, tem muito trabalho e esforço, mas nem sempre...
A
maioria das grandes personalidades que conhecemos, dos grandes empresários que
vemos, e dos grandes astros que percebemos, todos eles foram pessoas que em
algum momento, por seu trabalho e esforço ou não, foram lembradas e tiveram a
oportunidades de suas vidas. Porem isso acontece também de forma menor, como
pra aquele amigo, em que sempre surgem boas oportunidades de emprego.
Eu
conheço, uma grande advogada (Dra. Eliane Gomes), uma grande cantora (Tielly),
um grande cantor (Marcos Dutra), um ótimo jogador de futebol (Gustavo), um
excelente desenhista (Chico), um gênio prodígio (André Dias), entre outros que
eu...não lembro! Um tanto de pessoas esquecíveis!
O
que diferencia essas pessoas de seus pares nos seus respectivos ramos de
atuação, que fazem uns brilharem e outros simplesmente serem o que são? Porque
as oportunidades não são isonômicas pra todos? Por que, infelizmente, assim
como eu, todos esses que eu conheço, são pessoas esquecíveis, pessoas
invisíveis, e que todos aqueles que nos conhecem sabem quem somos. Nossas
competências, capacidades, habilidades. Sabem onde estamos, e quando estamos,
porem simplesmente, no momento da oportunidade, um espelho reflete nossas
imagens e nos faz desaparecer frente aos seus olhos, mesmos que estejamos bem
ali.
Prazer,
caso você não me conheça, sou uma pessoa sistemática (essa é a maneira formal e
mais elegante de dizer que alguém é chato) sou bom profissional, minimamente
honesto, entrego um bom trabalho, assim como detenho a inteligência mínima do
homem médio. Sou fá incondicional das artes e da cultura. Sou desenhista,
escritor e filósofo amador. Gosto de cinema, de astronomia, de geopolítica,
história. Cozinho muito bem. Adoro os animais, participo de um grupo de
voluntariado, faço coleções e sou minimamente esclarecido. Tento ser uma boa
pessoa, tenho muitos adjetivos, a maioria ruim, mas alguns razoáveis. Prazer, e
apesar de não querer, sou um entre milhares de seres invisíveis, qual durante
um lapso mental entendi toda uma dinâmica mundial: SOU ESQUECÍVEL, e pra todos aqueles que me conhecem, pelo menos no
meu funeral, não se esqueçam de mim.
REDAÇÃO
AFM
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