CONVERSA FILOSOFICA 3: CAOS




Cada vez mais afirma-se dentro de mim o ceticismo, a descrença em tudo e qualquer coisa, a falta de sentido, bem como o quão o mundo é demasiado injusto e hipócrita.
Injusto, pois cada vez mais vejo os bons sendo desprezados pelo sucesso, e inversamente os questionáveis se vangloriando pelo êxito em todos os sentidos da vida. Os bons morrem jovens, sem não fisicamente, morrem em sentido, em fé...em sonho. É difícil só acreditar e nada acontecer, é difícil somente seguir “Os segredos da Mente Milionária”, “O Segredo”, e tantos outros livros baratos motivacionais, que só dão retorno efetivo para seus escritores, pois pelo que me consta estão todos ricos e satisfeitos. É difícil sempre ter fé, sempre acreditar, sempre esperar que as coisas vão melhorar, é difícil sempre enxugar as lágrimas erguer a cabeça e mesmo que céticos, batermos no peito e dizer: “novas oportunidades virão”, e difícil sempre acreditar que até nas mais belas praias acontecem tempestades, mas o que vemos é que a tempestade nunca passa. É difícil sempre nos contentarmos e ficarmos satisfeitos (não pelo mal dos outros) por te pessoas em condições piores que a nossa, e ficarmos felizes pelas migalhas que nos sobram...é difícil termos que sofrer sempre, e porque Jesus sofreu, temos nós também que sofrer?
Fácil é ser Deus nos dias de hoje, pois tudo de bom que acontece é porque Deus quis, e tudo de ruim que acontece a culpa é nossa, por não termos tido fé o suficiente. Nem Deus e nem o Diabo acreditam mais naquilo que o homem acredita, estão lá em seus respectivos lugares, chateados com toda essa merda que fanáticos e bajuladores profetizam contra ou favor em suas crenças, esperam a evolução da espiritualidade enquanto se divertem e se chateam com a religiosidade.
Sendo assim o que me resta é uma fé cansada, que desaparece pouco a pouco, calejado, depreciado e desmoralizado dia a dia com a futilidade, desumanidade, incoerência, soberba e ignorância que faz do nosso presente algo perdido. Não adianta lutar, não adiantar nos gladiarmos, não adianta acreditarmos ou termos fé, pois nada mudará, o caos continuará em frente com toda a calma do mundo[1], e as perspectivas se desmoronarão. Cada vez mais viveremos nossas arrogâncias e egoísmos, cada vez mais nos isolaremos, nossos cultura se definhará, os valores, os preceitos e as instituições cairão. Viveremos e apreciaremos o apocalipse moral, a humanidade se degradará na sua própria promiscuidade e escuridão, nossos sentimentos se volatizarão contra nós e não reconhecermos mais o que é compaixão, fraternidade, revolta, indignação, viveremos unicamente a indiferença.
Alem da injustiça, enlaçamo-nos com a hipocrisia, pois recomendamos aos outros aquilo que nem nós mais acreditamos, fazemos apologias, discursos, moralismos, sermões, perspectivas de bondade e afins, porem tudo sem sentido, sem fundamento...
Vivemos a castração da inteligência, a estética da pobreza, da pobreza de espírito, da ignorância. Vivemos uma liberdade cerceada, vivemos como gado predestinados ao abate, uma falsa alegria, camuflada pela necessidade de sempre estarmos bem, sempre estarmos felizes, sempre estarmos bonitos.
Não acredito em mais nada, pois nem sempre se pode ter fé, pois nem sempre a fraqueza que se sente quer dizer que a gente não é forte.[2] Preferia ser ignorante, viver cegamente e acreditar em tudo, ser medíocre, pois seria muito mais fácil ser enganado. Acreditar em Deus, no Diabo, no céu, no inferno, acreditar em seres fantásticos, e nas religiões. Gostaria de fazer parte do sistema, e apreciar o controle estatal, pois a sabiedade nos faz querer viver a anarquia, a liberdade em toda a sua essência. É muito ruim e difícil viver o niilismo, o ceticismo e a descrença, pois o pior de tudo de quando não se acredita em mais nada, é que nada mais faz sentido, inclusive viver.



[1] Parte da letra da música “Sereníssima”, do Legião Urbana.

[2] Parte da letra da música “Palavras Repetidas”, do Gabriel, o pensador


REDAÇÃO
AFM

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